domingo, 25 de março de 2012

Marcelo Nova - Robocop



Marcelo Nova - Robocop

Eu já nem sei se me lembro quando foi que começou
Estrela no peito xerife, bandido não perdoou

Eu fugia da escola pra poder ir pro cinema
Eu encarnava o mocinho, me fascinava o emblema

Hoje começo bem cedo, levanto pronto pra ação
Polícia dorme atento de quepe e cinturão

Então me sento na mesa, café com pão e biscoito
Mas não são feitas de açúcar as balas do meu trinta e oito

Meu carro parece um tanque, meu macacão camuflado
Mas eu só prendo mendigo, então pivete ou viado

Meu peito é feito de aço o meu plantão é noturno
Guardo uma grana arrochada na sola do meu coturno

Essa cidade tem câncer e este câncer é crime
Tumor que cresce e corrompe senhora nem se aproxime

As vezes sinto vergonha da minha corporação
Dos olhos que me fuzilam no meio da multidão

Eu amedronto as pessoas a quem devo proteger
Pensam que sou inimigo procuram se esconder

O meu andar assusta, o meu olhar intimida
Preço que todos pagamos por uma bala perdida

Recebo ordens de doido, doidos por ordens da lei
Mas mesmo fora de ordem, ordens são ordens eu sei

Na esquina da Ipiranga onde cruza a São João
Tudo se move e acontece menos no meu coração

Meu pai não estava careta quando sangrou minha irmã
Depois me beijou na testa, me disse até amanhã

Então sumiu do planeta nas asas de um caminhão
Mas ainda vou encontra-lo, vou lhe dar voz de prisão

Eu chorava no quarto quando chegou a TV
Mas não disseram a verdade e nem mostraram porque

Minhas mãos banhadas de sangue, minhas mãos lavadas no horror
Pensaram que era outro filme, chamaram o patrocinador

Por isso eu sempre atiro, que é pra depois perguntar
Embora, as vezes eu me esqueça do que eu ia falar

Que bom que eu cheguei em casa pra beijar minha mulher
Ela me diz que é fiel pro que der e vier
Pro que der e vier

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